domingo, 10 de outubro de 2010

Necessidades nutricionais no idoso



            O envelhecimento é um processo caracterizado por mudanças biológicas normais que ocorrem com o passar da vida. A qualidade de vida na terceira idade relaciona-se a diversos fatores do cotidiano, como a saúde física e mental, satisfação com o trabalho, relações familiares, vida social, estado nutricional adequado, atividades físicas, entre outros.
            Um estilo de vida que combina uma alimentação equilibrada, atividade física regular e controle do estresse, contribui para aumentar a expectativa de vida do idoso e, principalmente, uma vida mais saudável.       
            Nos idosos as funções no organismo diminuem como um todo, diferenciando-se na intensidade segundo o órgão ou sistema em questão.
            Uma das maiores modificações no organismo é a mudança na composição corporal, com o aumento do tecido adiposo e diminuição da massa magra. A partir dos 60 anos, este quadro atinge todos os órgãos e com maior intensidade na massa muscular, provocando alteração na  força e mobilidade, favorecendo a possibilidade de quedas. Esta alteração da composição corporal reflete diretamente na diminuição do metabolismo basal.
            O olfato, paladar e a visão diminuem, podendo reduzir o consumo alimentar, assim como a capacidade de mastigação. O idoso passa a ter escolhas alimentares alteradas que podem diminuir o valor nutritivo da alimentação e com isso, aumentar o risco de desnutrição.
            Um bom estado nutricional, com o fornecimento adequado de energia, proteínas, vitaminas e minerais é de extrema importância para que o idoso resista às doenças crônicas e debilitantes e possa manter a saúde e independência.
            Para a avaliação nutricional do idoso é fundamental ressaltar uma história alimentar. Contudo, é necessário questionar o idoso, assim como os familiares, sobre alterações de peso, restrições alimentares voluntárias ou impostas, alcoolismo, depressão, alterações gastrointestinais, doenças crônicas e uso de medicamentos. Além disso, um registro da alimentação habitual do paciente por três dias é interessante para avaliar o padrão rotineiro de ingestão.
            Nos exames físico e laboratorial devem ser identificadas as alterações procurando não confundir os sinais de desnutrição com o processo de envelhecimento.

Necessidades energéticas
            Nos idosos, assim como em toda a população, a quantidade energética ingerida na alimentação é fundamental para manter um estado nutricional adequado. Uma alimentação diversificada, com alimentos de diferentes fontes, oferece os nutrientes necessários para uma nutrição equilibrada, desde de que ingeridos na quantidade recomendada para suprir os gastos energéticos.
            O fracionamento das refeições, assim como a diminuição do seu volume contribuem para o processo de digestão, absorção e aproveitamento dos alimentos. Recomenda-se o consumo de quatro a seis refeições diárias. Além disso, é importante a refeição apresentar aspectos agradáveis, como a cor, sabor, aroma e textura.
             A redução na massa magra corpórea e a atividade física estão associadas com a necessidade total de energia. O metabolismo basal reduz cerca de 10% até os 60 anos e aumenta com passar da idade, influenciando diretamente com a diminuição do gasto energético.
            O gasto energético diário é estimado mediante a soma do metabolismo basal e as atividades físicas. Para determinar a taxa metabólica basal recomenda-se a utilização da equação da Organização Mundial da Saúde, OMS, 1996 que considera o peso corporal. A energia  gasta com a atividade física pode ser mensurada e avaliada em tabelas com o gasto energético por tipo de atividade.

Carboidratos
            O carboidrato é um nutriente essencial na nutrição humana. Algumas de suas funções são: fornecer energia para o organismo, preservar a proteína, servir como único substrato energético para o sistema nervoso central e ativar o metabolismo.
            A dieta do idoso deve obter entre 50% a 60% do valor calórico total de carboidratos. É necessário ressaltar a prioridade de carboidratos complexos, como o arroz, macarrão, pães, batata e cereais, para minimizar os picos de hiperglicemia. Os carboidratos simples, como a glicose e sacarose deverão ser no máximo 10% do total de carboidratos.

Proteínas
            As proteínas são formadas por diferentes combinações dos 20 aminoácidos e exercem funções estruturais, reguladoras, de defesa e de transporte nos fluidos biológicos. A melhor fonte protéica são as de origem animal, entretanto, a mistura de cereais e leguminosas fornece a quantidade necessária de aminoácidos para a síntese protéica.
            Os idosos apresentam diminuição na síntese e degradação protéica, além de uma menor massa magra, assim, o fornecimento protéico é fundamental. A recomendação estabelecida pela Recomendações das Necessidades Diárias (RDA) é de 0,8g/kg/dia. É importante ressaltar o cuidado para não haver uma ingestão acima do recomendado, podendo sobrecarregar o sistema renal, além de interferir na absorção de cálcio, prejudicando a massa óssea.

Lipídeos
            Os lipídeos desempenham funções energéticas, estruturais e hormonais no organismo, além de auxiliar na absorção e transporte de vitaminas lipossolúveis.
            A ingestão de lipídeos recomendada é de 20% a 30% do valor calórico total. No entanto, as gorduras saturadas não devem ser superior a 10%, pela sua associação com doenças coronarianas. São encontradas em carnes, ovos, leite e derivados.
            O restante deverá ser de mono e poliinsaturados, encontrados em gorduras vegetais. A ingestão de ácidos graxos essenciais, que incluem o ômega 6 (ácido linoléico) deve ser de 11g/dia, sendo encontrado em nozes, castanhas, sementes e óleo de soja, girassol e milho; e o ômega 3 (ácido linolênico) com ingestão de 1,1g/dia, encontrado em óleos de canola, linhaça, salmão, arenque, sardinha e algas. O consumo de colesterol não deve ser superior a 300mg/dia.


Vitaminas e Minerais
            O uso de suplementos vitamínicos e de minerais pelos idosos pode ser uma alternativa a ser considerada quando há consumo de dietas inadequadas ou alguma enfermidade específica. Porém, seu uso não pode ser extrapolado, visto que uma dieta equilibrada pode suprir as necessidades do indivíduo.
            O cálcio é um dos principais micronutrientes relacionados com o envelhecimento, além de ser o mais abundante no corpo humano. O metabolismo do cálcio está diretamente relacionado com a perda da massa óssea ou osteopenia, podendo atingir a osteoporose. Além disso, a absorção de cálcio está diminuída no idoso, sendo mais um fator de contribuição da doença. A suplementação pode ser necessária para grupos de risco, como mulheres na pós-menopausa com histórico familiar da doença, raça branca, baixo peso, sedentárias e com exposição solar inadequada.
            Segundo as DRIs, a recomendação de cálcio para a população acima dos 51 anos é de 1200mg/dia.
             A vitamina D é um outro fator relacionado ao metabolismo ósseo, sendo necessário um controle adequado na ingestão deste nutriente. O estilo de vida do idoso, prática de atividade física, reposição hormonal e a genética devem ser levados em consideração. Além disso, o consumo de cafeína, alimento comum entre idosos, hábito de fumar e excesso de álcool podem comprometer negativamente a massa óssea.
            Contudo, o acompanhamento do paciente idoso é extremamente necessário para que o mesmo tenha uma dieta equilibrada e mantenha a saúde.

Hidratação
            A água deve merecer atenção especial, principalmente nesta faixa etária, na qual a desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum.
            O sistema renal diminui sua capacidade com a idade, assim como os idosos sentem menos sede que os mais jovens, gerando uma privação de água. Esta pode ocorrer por um distúrbio cognitivo, pela diminuição da sede ou por debilidade física. Contudo, a água deve ser controlada, assim como a dieta e os medicamentos, principalmente, para idosos que requerem um maior cuidado.
            Como visto a população idosa apresenta particularidades que merecem maior cuidado e atenção. A nutrição pode contribuir para a manutenção e melhoria da saúde destes indivíduos, buscando a união de uma dieta equilibrada e saudável com o prazer, alegria e conforto que o alimento propicia, respeitando sempre as preferências e hábitos dos idosos.


Referências Bibliográficas

COZZOLINO, S.M.F. Biodisponibilidade de nutrientes. 1.ed. São Paulo: Manole, 2005.
DUTRA-DE-OLIVEIRA, J.E.; MARCHINI, J.S. Ciências Nutricionais. 1.ed. São Paulo: Sarvier, 1998.
FERREIRA, M.T., et al. Necessidades nutricionais no idoso ativo. Rev. Nutrição Saúde e Performance, São Paulo, p.35-40, jan./fev./mar. 2004.
SOUZA, F.T.F.S., MOREIRA, E.A.M. Qualidade de vida na terceira idade: saúde e nutrição. Rev. Cien. Saúde, Florianópolis, v.17, n.2, p.55-76, jul./dez. 1998.


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