A intervenção nutricional do idoso tem papel fundamental na prevenção e controle de enfermidades, diminuindo a incidência de doenças crônicas não transmissíveis (Vellas et al, 1992).
Para realizar o diagnóstico do estado nutricional, são utilizados indicadores bioquímicos, dietéticos e antropométricos.
A avaliação nutricional nesta fase da vida é criteriosa, já que vários fatores dificultam uma avaliação precisa, como as alterações fisiológicas referentes à idade, alterações da composição corporal do idoso e processos patológicos crônicos (Sampaio, 2004).
A anamnese irá detectar a queixa principal do indivíduo, sua história clínica pregressa, seus hábitos alimentares e consumo alimentar habitual. O indivíduo idoso normalmente tem maior dificuldade de aceitar mudanças em seu estilo de vida, por isso a intervenção nutricional deve ser gradual, para que o idoso siga a orientação (Vitolo, 2008).
DADOS ANTROPOMÉTRICOS:
Antropometria no idoso é um importante indicador nutricional, mas as alterações biológicas que ocorrem com o envelhecimento modificam a composição corporal. As principais alterações são: diminuição da massa muscular, aumento da gordura corporal, e em alguns casos encurvamento da coluna e/ ou o encurtamento das vértebras. Alguns autores sugerem que a flacidez da pele pode interferir na mensuração das dobras cutâneas, com resultados muitas vezes errôneos (Vitolo, 2008).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o peso corporal tende a aumentar até a faixa de 60 anos. O aumento de peso do homem alcança seu ápice aos 65 anos, e a partir dessa fase há uma diminuição do peso. Já as mulheres atingem esse ápice aos 75 anos (OMS 1995, Menezes & Marucci, 2005). A diminuição do peso a partir dos 65 anos, principalmente entre os homens, pode estar associada à perda de massa muscular (OMS 1995).
Mensuração do Peso corporal - alguns idosos tem dificuldade para caminhar e ficar em pé. Há duas opções: pesar com uma cadeira (tirando o peso da cadeira) ou estimar o peso através de uma fórmula de estimativa de peso para idosos (Chumlea e cols, 1985 e 1988).
Fórmulas:
- Homens: peso = (1,73 x CB) + (0,98 x CP) + (0,37 x DSE) + (1,16 x AJ) – 81,69.
- Mulheres: peso = (0,98 x CB) + (1,27 x CP) + (0,4 x DSE) + (0,87 x AJ) – 62,35.
Legenda:
CB = circunferência do braço (cm)
CP = circunferência da panturrilha (cm)
DSE = dobra subescapular (mm)
AJ = altura do joelho (cm).
O peso deve ser classificado segundo IMC (Índice de Massa Corporal) para idade. O IMC é o método mais utilizado para avaliação de risco nutricional. Porém é um protocolo questionado porque não considera as mudanças de composição corporal dos idosos, como o aumento de gordura na região abdominal e em muitos casos perda de estatura. Existem diferentes pontos de corte para classificar o IMC para idosos. A classificação proposta pela OMS é a mais utilizada, onde:
MAGREZA <18,5 Kg/m2
EUTRÓFICO 18,5 a 26
SOBREPESO >= 27 kg/ m2
Fonte: OMS, 1995
Já as alterações de peso refletem desequilíbrio entre ingestão e o consumo de nutrientes, e podem ser mensuradas através da fórmula de perda ponderal:
% PPR (percentual de perda ponderal) = (PU – PA)/PU x 100
Legenda:
PU = peso usual (kg)
PA = peso atual (kg).
A classificação para a avaliação de perda de peso em idosos:
Tempo | Perda de peso significativa (%) | Perda de peso grave (%) |
1 semana | 1 a 2 | > 2 |
1 mês | 5 | > 5 |
3 meses | 7,5 | > 7,5 |
6 meses | 10 | > 10 |
Fonte: Blackburn & Bistrian, 1977
As circunferências mais utilizadas nos idosos são da cintura e do quadril, já que com o envelhecimento há um maior acúmulo de gordura na região central. Para essa população a medida da circunferência do braço é importante como forma de mensurar a perda de massa muscular comum com o envelhecimento.
Valores de circunferência da cintura são analisados isoladamente nos idosos (WHO, 1997). Pontos de corte:
Valores de CC (cm) considerados como risco para doenças associadas à obesidade Pontos de corte:
Valores de CC (cm) considerados como risco para doenças associadas à obesidade
| Risco elevado | Risco muito elevado |
Mulheres | >= 80 | >= 88 |
Homens | >= 94 | >= 102 |
Fonte: World Health Organization, 1997
A Relação cintura-quadril é utilizada também, mas segundo alguns estudos (Pouliot et al, 1994 & Seidell et al, 1988) têm associação moderada com o acúmulo de gordura corporal. Pontos de corte:
Valores de risco da RCQ
| Risco elevado |
Mulheres | < 1,00 |
Homens | < 0, |
Fonte: Bray, 1989.
Por fim a mensuração das dobras cutâneas também é muito utilizada pela facilidade e baixo custo. As dobras tricipital e subescapular tem relação direta com a quantidade de gordura total no corpo (Chumlea e cols, 1992). Porém existem limitações que atrapalham a acurácia dessas medidas em idosos, como edema, perda de peso e flacidez acentuada da pele.
Os exames bioquímicos podem detectar problemas nutricionais de maneira precoce e seus resultados devem ser avaliados com cuidado, pois nessa fase patologias, medicamentos ou estresse podem interferir no resultado (Najas & Sachs, 1996).
Os exames bioquímicos para a avaliação nutricional são: glicemia, albumina, marcadores do metabolismo de ferro (transferrina e ferritina), hematócrito, hemoglobina, contagem de linfócitos, colesterol e frações, triglicérides e vitamina B12 e ácido fólico (Vitolo, 2008).
Níveis baixos de ácido úrico e da glicemia em jejum estão associados à perda de peso. Já a intolerância à glicose e hiperlipidemia tem relação direta com o aumento da circunferência da cintura (gordura visceral) (Vitolo, 2008).
A hipoalbuminemia tem relação com a desnutrição (perda de peso e massa magra) e diminuição da resposta imunológica. Porém a hipoalbuminemia correlacionada com doenças crônicas pode não ter relação com desnutrição, pois a presença de doenças inflamatórias pode reduzir os níveis dessa proteína (Vitolo, 2008).
Níveis baixos de colesterol total são documentados como possíveis indicadores de desnutrição, hipercatabolismo e má absorção (Vitolo, 2008).
A diminuição de ferro sérico, com redução de ferritina e níveis elevados de transferrina indica deficiência de ferro (Vitolo, 2008).
A correta interpretação desses exames é complexa, já que outros fatores como uso de medicamentos e doenças podem interferir nos resultados. Por isso a interpretação deve fazer parte de uma avaliação conjunta de todo o prontuário de cada paciente individualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Blackburn GL, Bistrian BR. Nutrition and metabolic assessment of the hospitalized patient. JPEN, v. 1, p. 11-12, 1077.
Bray GA. Classification and evaluation of the obesities. Med Clin North Am 1989; 73:161-84.
Menezes TN, Marucci, MFN. Antropometria de idosos residentes em instituições pediátricas. Fortaleza, CE. Rev Saúde Pub, v. 39, n. 2, p. 169-175, 2005.
Najas MS, Sachs A. Avaliação nutricional do idoso. In: Papaléo Netto, M. Gerontologia. São Paulo: Atheneu; 1996. p.242-7.
Organização Mundial de Saúde (WHO). World Health Organization. Physical Status:The use and interpretation of anthtopometry. Genebra: World Health Organization, 1995.
Seidell JC, Oosterlee A, Deurenberg P, Hautvast JAGJ, Ruijs JHJ. Abdominal fat depots measured with computed tomography: effects of degree of obesity, sex, and age. Eur J Clin Nutr 1988; 42:805-15.
Vellas BJ, Alberede JL, Garry PJ. Diseases and aging: Patterns of morbidity with age; relationship between aging and age-associated diseases. Am J Clin Nutr 1992; 55:1225S-30S.
Vitolo MR. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2008. p 435 – 48.
World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Geneva; 1997.